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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O que eu quero de você - Daniel Bovolento


Eu quero levar a sua pele morena pra baixo de alguma copa de árvores altas com uma grama verde pra gente poder deitar. Dar um olhada nos teus olhos profundos e respirar fundo sem deixar você desconfiar que daqui eu não saio mais. Eu quero conhecer um pouco mais do seu gingado bom de quem fala puxando as letras e me puxando junto. Pedir licença sem bater na porta e sair entrando no quintal da tua casa pra te conquistar. Abrir a geladeira e desfrutar de toda a intimidade ouriçada como os pelos dos seus braços quando eu sopro o ar nas suas coxas. Eu quero te deixar de pernas bambas de tanto sambar e te deixar de sorriso frouxo de tanto rodar o mundo e sentir o vento no rosto e dispensar o relógio pra ficar comigo.
Eu quero aproveitar o esbarrão que a gente deu outro dia pra esbarrar em você sempre que der, e de propósito. Eu quero. Me confundir com você. Me inspirar em você. Me atrasar em você e não me arrepender de chegar atrasado no trabalho. Quando o chefe perguntar, eu digo que é paixão. Ele vai entender se te conhecer algum dia. Eu quero te ver vestindo todas as minhas camisas e abrir cada botão delas ritmando o suspiro. Sem abafar a. Respiração. Eu gosto desse seu jeito de descomplicar quando fica a sós comigo. Eu quero pintar o seu corpo com algum pincel ou lápis de cor pra deixar a sua tela mais confusa. Eu quero moldar as suas coxas nas minhas mãos e tirar a sua roupa. Eu quero me prender em você ao ar livre.
Eu quero levar você na cidade onde eu nasci. Pra me conhecer de vez e conhecer o meu lado moleque mais inofensivo. Eu quero dançar com você em alguma chuva de verão e reparar nas suas pintas espalhadas pelos seios à luz de velas ou na lareira – pra aquecer. Pra te encontrar melhor. Explorar você com os dedos e passear a barba pela sua costela e sentir um arrepio frio em pleno outono. Levantar subitamente e. Parar. Colocar um disco com uma balada qualquer e abrir uma cerveja. Porque o vinho te dá sono e eu ainda quero me estranhar com você. Dizer que te espero de azul no altar – pra combinar com seus olhos – e convido até o tio chato que você adora só pra te ver feliz. E eu nos declaro…
Eu quero uma tarde com você. Eu quero detalhes com você. Eu quero encostar em você e só sair se você mandar sair bem de fininho pra não descolar tão fácil assim, e pra dar tempo de você se arrepender e me mandar voltar. Eu quero assistir esse pôr-do-sol com você na copa da tal árvore e agradecer por ter esbarrado em mim aquele dia que a gente se encontrou no chão. Eu. Quero deixar pra lá qualquer discurso desses que me façam perder tempo enquanto você pergunta o porquê. Quero brincar e conduzir teu samba e me colar e deixar a sua perna bamba (como eu já disse que queria fazer)… Quer vir?

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